COMEÇO

Tu não te lembras daquela noite!

 Já faz tanto tempo

Do nosso primeiro encontro.

Uma música suave

Ecoava pelo ambiente,

Olhares que se cruzavam

Mudos e silenciosos

A procura do tão sonhado amor.

Lantejoulas brilhavam no salão;

Lá fora as estrelas iluminavam

Os anônimos rostos,

Disfarçados pela maquiagem

Do tempo.

Momentos marcados pela paixão;

Aroma de uma essência diferente

Espraiava-se pelo recinto.

Aproximei-me de onde estavas;

Nossos olhos se fitaram

Numa avidez mutua.

A emoção tomava conta de mim

Nossas faces se tocaram

E, senti algo diferente,

Foi assim que tudo começou.

FIGURINO DA VIDA

Às vezes penso que estou sonhando,

Que a vida não tem fim;

Que sempre serei

Aquele inocente menino,

Correndo livre atrás das borboletas,

Que roubavam às pétalas

Das flores do seu jardim.

Que meditava nos bancos das praças

Apreciando a coreografia dos pássaros

No crepúsculo do entardecer.

Às vezes não quero acreditar

Na realidade que me rodeia;

Quando me deparo com a imagem

Refletida no espelho do presente.

Tudo mudou diante o meu frágil olhar;

O figurino já não é o mesmo

A metamorfose das épocas

Tudo transformou.

A moldura do quadro que outrora

Era colorida assumiu

Seu disfarce em preto e branco.

E na quietude do meu semblante

Vislumbro uma outra paisagem

Diante de mim.

No grisalho dos meus cabelos

A soma de tantas experiências,

Que o tempo pintou nas telas.
Da saudade.
 

Matizes de diferentes cores;

Disfarce que de nada adiantou

Pois, só agora percebo

Que a vida tem fim.

 

VIVENDO A VIDA

Assim eu vou vivendo a vida!

Sonhando sem pressa de chegar;

Contemplo o sol nascendo

Por entre as nuvens

Dos meus tempos vividos.

Por onde passei amei

E fui amado.

Misturei lágrimas de lembranças

Das inevitáveis partidas,

Com os sorrisos das surpresas

Das chegadas.

E a vida vai passando,

Como o acalanto

De uma canção de ninar,

Que me leva a sonhar

Com às pétalas das flores

Que floresceram ao longo

Dos meus caminhos;

Dos nômades sentimentos

Que passaram pelo meu coração;

Que o deixaram sozinho

Envolto na neblina das ilusões,

Que despertou quando a saudade

Comigo veio morar.