Não, eu não queria que o tempo
passasse, eu queria que ele ficasse estático, eu queria ficar aqui vivendo esse
sonho lindo de verão e me banhar nas tuas águas afrodisíacas, me deixar ser
levado pelo misticismo do teu encanto, ser enfeitiçado pelo canto das tuas
sereias que vem do paraíso do teu mar azul.
Eu, queria ficar um pouco mais, e nas
areias brancas de Itapuã, dá vida aos meus versos e rimas e escrever a mais bela
das minhas poesias, retrata nas minhas crônicas a riqueza da tua cultura
afro-brasileira, do teu sincretismo religioso, da tua belíssima arquitetura
colonial.
O axé representa a energia, que emana das
tuas entidades sagradas, que embala o teu povo nas águas mansas de amaralina,
salpicadas pelas gotas de um luar prateado, e quando à noite inicia o seu
reinado à luz cintilante do guardião das tuas tradições, Farol da Barra,
norteia o trajeto dos teus nautas na imensidão do silêncio do oceano que ti
rodeia. E, pelas tuas vielas marcar um encontro com o passado através da tua
História. Adormecer na boemia do teu Rio
Vermelho e cultuar nos meus devaneios a estrela mais brilhante do teu
firmamento.
O momento da partida chegou, contemplo teu
fascinante Pôr do Sol e aos poucos vou me
despedindo de ti, meu olhar se perde na exuberante beleza da Baía de Todos os
Santos e do Atlântico que emolduram o teu
apoteótico cenário de divindade da natureza. A cortina do tempo encerra mais um
ato que Deus me permitiu viver nos palcos da vida.
Sinto no rosto o aroma das deusas que te
abençoam ao cair da tarde, uma suave brisa, desalinha meus cabelos e me faz
sentir como um naufrago que não quer ser resgatado e segue surfando pelas ondas
de um tempo que passou, que já não mais me pertence, pois é parte de uma recordação
que vai comigo.
Não sei se nos encontraremos, outra vez,
se às forças anônimas do destino me permitirão te reencontrar em
meio aos meus caminhos, já é hora, e, eu estou indo embora levando no peito
bastante saudades, e quando comigo a lembrança vier morar, eu serei apenas mais
um que por aqui passou.