quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

SAUDADES DE SALVADOR (CRÔNICA)


     Não, eu não queria que o tempo passasse, eu queria que ele ficasse estático, eu queria ficar aqui vivendo esse sonho lindo de verão e me banhar nas tuas águas afrodisíacas, me deixar ser levado pelo misticismo do teu encanto, ser enfeitiçado pelo canto das tuas sereias que vem do paraíso do teu mar azul.  

       Eu, queria ficar um pouco mais, e nas areias brancas de Itapuã, dá vida aos meus versos e rimas e escrever a mais bela das minhas poesias, retrata nas minhas crônicas a riqueza da tua cultura afro-brasileira, do teu sincretismo religioso, da tua belíssima arquitetura colonial.

       O axé representa a energia, que emana das tuas entidades sagradas, que embala o teu povo nas águas mansas de amaralina, salpicadas pelas gotas de um luar prateado, e quando à noite inicia o seu reinado à luz cintilante do guardião das tuas tradições, Farol da Barra, norteia o trajeto dos teus nautas na imensidão do silêncio do oceano que ti rodeia. E, pelas tuas vielas marcar um encontro com o passado através da tua História.  Adormecer na boemia do teu Rio Vermelho e cultuar nos meus devaneios a estrela mais brilhante do teu firmamento.

      O momento da partida chegou, contemplo teu fascinante Pôr do Sol e aos poucos vou me despedindo de ti, meu olhar se perde na exuberante beleza da Baía de Todos os Santos e do Atlântico que emolduram o teu apoteótico cenário de divindade da natureza. A cortina do tempo encerra mais um ato que Deus me permitiu viver nos palcos da vida.

      Sinto no rosto o aroma das deusas que te abençoam ao cair da tarde, uma suave brisa, desalinha meus cabelos e me faz sentir como um naufrago que não quer ser resgatado e segue surfando pelas ondas de um tempo que passou, que já não mais me pertence, pois é parte de uma recordação que vai comigo.

      Não sei se nos encontraremos, outra vez, se às forças anônimas do destino me permitirão te reencontrar em meio aos meus caminhos, já é hora, e, eu estou indo embora levando no peito bastante saudades, e quando comigo a lembrança vier morar, eu serei apenas mais um que por aqui passou.