A vida é assim, seus caminhos são pontilhados pelas surpresas que se contrapõem aos dogmas filosóficos. No paradoxo das nossas caminhadas às vezes nos deparamos com as encruzilhadas das suas estradas que nem sempre nos conduzem ao destino que planejamos. Ela é silenciosa e nunca nos revela os seus segredos, é uma incógnita, impossível de conhecer os seus resultados, pois as suas variáveis são parâmetros que estão além da capacidade da mente humana. Tudo é criptografado no incógnito livro do nosso destino. A cada dia uma nova página é escrita; a cada virgula um novo parágrafo; a cada ponto um novo capítulo é redigido.
Sabe aquele tempo que vivi e que jamais esquecerei? Foi maravilhoso e permanece
até hoje na minha memória. A magia das ruas ainda rústicas, pintavam a
natureza, com o seu design encantado que me extasiava com suas formas
geométricas. Caminhei pelas estradas carroçáveis dos verdes campos da juventude,
fascinado pelas paisagens de uma época áurea. Fui artífice e ator das peças
encenadas pelos palcos por onde passei. As máscaras que usei deixe-as nos
jardins das flores que cultivei e desabrocharam nos canteiros de uma imensa
saudade.
Eu queria despertar das relíquias do passado,
os momentos lindos que vivi, corrigir os meus erros e dá vida as minhas
fantasias, poder despertar o silêncio dos segredos que me foram proibidos revelar.
Eu queria transformar em realidade os meus sonhos que na minha inocência deixei
morrerem sem ao menos tentar vivê-los. Sentir na minha boca a doçura daqueles
lábios anônimos que me encantaram e me levaram a descobrir pela primeira vez uma
estranha sensação e que depois vim a descobrir que era amor. Sinto o frescor da
brisa dos finais das tardes de verão tocando o meu rosto como antigamente umedecendo
o meu corpo com o orvalho de um crepúsculo mágico que foi cenário das minhas
paixões proibidas.
Sempre lembrarei das belezas que jamais conseguirei
apagar da minha mente fui e sempre serei um viajante de outras épocas cavalgando
pelos vales; pelas planícies, bailando pelas ondas feiticeiras de um mar que
purificou meu corpo e elevou à minha alma para além das estrelas onde moram as
musas encantadas dos versos e rimas das minhas poesias, que flutuam pelo
infinito mundo das minhas recordações.
Ah, como queria correr atrás das minhas translúcidas
ilusões e torná-las realidade dentro dos meus pensamentos. Eu queria viajar
pelas minhas miragens e poder torná-las reais, mas tudo é impossível, não se
pode trazer de volta o que o tempo transformou em cinzas, me despeço dos meus
devaneios e me encontro com o misticismo do meu presente que dentro em pouco
será mais uma lembrança adormecida no meu passado.