domingo, 19 de julho de 2015

VAGANDO (CRÔNICA)


           Às horas vão passando lentamente e eu, perdido em meus pensamentos vou vagando pelas minhas recordações e no campo minado do meu coração, sentimentos aportaram, alguns ficaram outros se foram numa revoada de pétalas levadas pelo tosco vento que quando criança desalinhou meus cabelos.  
          Percorro as vielas que me viram crescer, em cada canto rememoro os momentos que vivi e que me marcaram. Imagens que se sucedem na retina de um saudoso olhar. Lágrimas que permanecem ocultas dentro de mim contidas pelo silêncio, meu eterno companheiro.
        Tornei - me um andarilho das estradas que o destino me reservou e na sucessão dos anos vividos vou pontilhando minhas caminhadas com as marcas dos meus passos que ficarão gravados na poeira do tempo, no compasso da espera, nos rabiscos das minhas pegadas deixo um pouco do que fiz.
        Sou um errante caminhante das airosas manhãs de primavera, um artífice sonhador que se perdeu por entre os caramanchões das emoções que norteiam às minhas lembranças, no vazio que fica ao contemplar toda beleza da tarde partindo, e no crepúsculo que surge com o esplendor abrasador de mais um pôr do sol, a certeza de que mais um dia se foi, levando consigo um pedacinho da minha existência.  Deixando na boca o amargo sabor da despedida.
        E, lá se vou eu, atravesso a fronteira do meu subconsciente berço dos meus desejos recalcados que faz das minhas manias virtuais, o florescer do meu idílio, o brilho das minhas paixões proibidas, que nem mesmo, eu sabia que existiam.  Perambulo pelas madrugadas estreladas e me embriago com o perfume de sua brisa afrodisíaca que acaricia meu rosto como antigamente. De longe escuto os acordes daquela canção que tantas vezes embalou meus sonhos, que tornou meus momentos de prazer mais lúdico, como aquele anjo azul que nasceu na minha imaginação e que se foi para o firmamento buscar a minha estrela preferida e nunca mais voltou.  
          Vejo a vida acontecendo, um novo amanhecer surgindo no horizonte, que me rodeia, e que desfaz às minhas ilusões. Desperto da utópica viagem para a nua realidade, suas faces, seus espinhos encravados em meu corpo, não se pode voltar ao começo, pois nada poderá mudar o que está feito. Então só me resta continuar a minha jornada, minha ventura.