A guerra havia acabado, para Slaven
Kalinic, nada mais importava, perdera toda sua família, após 10 (dez) anos a
guerra civil da Iugoslávia tinha terminado, extinguindo por completo o
território iugoslavo. Estava à beira da estrada sem saber qual seria o seu
destino procurou na esfarrapada mochila que conduzia sobre seus calejados
ombros um resto de um cigarro que vinha fumando há uma semana. Observou o horizonte abrasador que se desenhava à
sua frente estava exausto, faminto e desidratado e tentou se levantar para seguir
à sua insólita caminhada e o mundo se tornou turvo ao seu redor. O seu corpo frágil
ficou inerte na rodovia sob o sol causticante daquela manhã de primavera sem
flores, pois tudo tinha sido destruído pelos sangrentos combates.
Não sabia o período que ficou desacordado ao despertar contemplou as paredes
brancas que o cercavam, ambiente que fazia parte das lembranças que guardava do
seu passado, mas não conseguia entender como
havia ido parar ali. Estava sendo hidratado por via intravenosa, foi então, que
entrou uma enfermeira que ao velo acordado o cumprimentou – bom dia Sr. Slaven!
Como está se sentindo? No que ele respondeu, estou confuso, que lugar é este?
como eu vim parar aqui? O Sr. Foi encontrado por uma unidade de resgate
desacordado no acostamento de uma estrada e foi trazido para o hospital de clínicas
e acolhimento da Cruz Vermelha. Quanto tempo faz que estou aqui? – há três dias,
ele fechou os olhos e adormeceu.
Slaven, teve alta recuperou-se e foi
morar em Flórina, na Grécia, queria apagar da sua mente os horrores da guerra
que destruiu o seu país e ceifou a vida dos seus familiares. Logo conseguiu trabalho
no principal hospital da localidade como enfermeiro, aos poucos foi galgando posições era elogiado por todos que formavam
a equipe médica pela sua enorme habilidade nos procedimentos médicos. Não
demorou muito assumiu o cargo de chefe da enfermagem do centro cirúrgico, era
um incógnito cidadão que havia chegado aquela
cidade em busca de emprego, no entanto, todos se
perguntavam onde ele tinha aprendido conhecimentos tão específicos da área médica
que o habilitava a ser o melhor profissional do quadro da instituição.
Mas, nada se sabia a seu respeito, tudo
o que tinha em sua ficha de admissão, era que tinha nacionalidade iugoslava,
com 40 anos de idade e que possuía experiência como enfermeiro e exercido essa
profissão em sua terra natal e nada mais. Sempre
recluso em seus pensamentos, morava sozinho em um pequeno apartamento próximo
ao centro hospitalar e não tinha amigos. Em suas folgas era visto nas praças floridas
contemplando a beleza das manhãs ensolaradas e a melancolia das tardes
partindo. Quando alguém procurava saber algo sobre ele,
sempre desconversava e argumentava que não valia a pena relembrar o que passou,
pois o que ele foi também morreu com seus entes queridos e queria esquecer os momentos passados.
Era um típico amanhecer de inverno no
continente europeu, o dia tinha aparência de noite encoberto pela densa neblina
que cobria os campos e vales, a cidade parecia não querer acordar, Slavem,
estava de plantão no centro cirúrgico, a rotina era tranquila, no entanto, às
próximas horas seriam de intensa ansiedade.
Eram 10h30, quando uma jovem de 15 anos
deu entrada no hospital, em estado gravíssimo vítima de um acidente
automobilístico e precisava ser cirurgiada com urgência pois, havia suspeita de
um traumatismo cranioencefálico. A paciente foi conduzida as pressas para o
centro cirúrgico cada segundo era de fundamental importância para salvá-la. A equipe médica comandada pelo neurocirurgião
Dr. Nicolas Anthony estava pronta para iniciar o procedimento, quando algo
inacreditável aconteceu, o Dr. Nicolas teve um mal súbito e teve de ser
retirado para atendimento em outra ala do
hospital. O desespero tomou conta do centro operatório não havia tempo a perder
a cirurgia tinha de ser realizada imediatamente se não ela poderia não resistir e ir a óbito. Foi então que um
anjo iluminado surgiu do nada. A voz calma e serena de Slaven Kalinic, soou no
recinto, me preparem eu vou operar agora. Todos ficaram atônitos sem acreditar no
que estava acontecendo, não se preocupem confiem em mim, eu sou neurocirurgião e
preciso da ajuda de vocês para salvar esta vida. Era inimaginável o que
acontecia. O procedimento foi um sucesso e Júlia Demetriou, filha do
Primeiro-Ministro da Grécia, Heitor Demetriou, sobreviveu graças ao Dr. Slavem
Kalinic, estava desvendado o segredo do ilustre desconhecido que anonimamente
chegou a Flórina.
Dr. Kalinic, como era conhecido na Bósnia
sua cidade de origem era um renomado médico iugoslavo que após a morte dos seus
familiares havia jurado que jamais voltaria a exercer à sua profissão.
NOTA
DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera
coincidência.
Autor
– José Valdomiro Silva