Os clarins silenciam, o
turbilhão da alegria passou levando consigo nossas fantasias, em um canto do
salão um pierrô solitário chora porque a sua colombina se foi. A vida é arte de
viver, e o carnaval é uma linda ilusão que nos envolve com a sua magia e nos
conduz pelos caminhos do seu mundo fantástico. O tempo se foi, a maquiagem que
transformou nossos rostos, que escondeu durante três dias as marcas da
realidade cotidiana se desfez por encanto. No compasso da folia você fez a
diferença; foi o mestre dos disfarces, diretor, roteirista e ator, personagem
central de uma peça onde os sonhos se tornaram momentaneamente reais. Por traz das máscaras, o anonimato das
lágrimas se transformou em sorrisos, e os caminhos espinhosos ficaram floridos
pelo encanto dos bailes e blocos norteados pela a emoção que se espraiou pelas
passarelas do destino.
Está
chegando à hora, o dia já vem raiando, à alegoria da saudade vai arrastando os
últimos foliões que ficaram perdidos em meio à multidão, súditos de um curto
reinado, que se recusam a acreditar que a bela utopia está chegando ao seu
final; que os amores nômades e às ardentes paixões não mais voltarão, talvez,
tenham sido produtos de um devaneio etílico, que o mundo da ficção nos
proporciona, e que se transformaram em estrelas, que passaram a brilhar no
firmamento, bem além da nossa imaginação, onde a felicidade é infinita.
A brisa airosa perfuma a última
noite profana, lá no alto uma lua nua, exalta toda à sua exuberante beleza,
iluminando o cenário do último show que o ilusionismo próprio dos eventos
carnavalesco, proporciona às multidões que se entregam de corpo e alma a
liberdade de contracenar, sem preconceitos com personagens das mais
diversificadas classes sociais. Culturas que se entrelaçam com os diversos
ritmos que compõem enredos e harmonias do universo da alegria
Ébrias são às vozes que se misturam aos acordes das canções de despedidas,
nos abraços derradeiros, no ultimo drink, no doce beijo da partida. O relógio
do tempo é implacável; não podemos conter à sua invisível cronologia, seus
ponteiros caminham lentamente, e quando se cruzarem, restará apenas uma
saudade; uma grande saudade.
As luzes se apagam, o colorido que se fez
presente nas avenidas; nas ruas; nas praças e palcos se transformam no preto e
branco da realidade que anuncia que a festa terminou. As lantejoulas e paetês
começam a perderem o seu brilho e se juntam aos adereços, que o vento das
lembranças começa a levar na melancólica revoada do adeus.