segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A VOCÊ PAI (CRÔNICA)

        Em meio ao silêncio da madrugada ouço o sopro brando da brisa fria de agosto invadindo o meu quarto, procuro o sono e não sei onde ele se escondeu, talvez esteja por aí vagando, recluso no ano de 1960, no crepúsculo de uma tarde que para sempre ficou na minha memória.
       É pra você pai que eu escrevo, pois sei que onde você esteja receberá esta mensagem.   
         Separamo-nos muito cedo, você se foi quando eu tinha apenas cinco anos de idade. Na minha inocência eu não entendi que era um adeus pensei que era apenas uma saída rotineira, e que logo mais à noite você estaria de volta.
      Esperei em vão, foi então que percebi que era o fim de um sonho, que os nossos passos a partir daquele dia seguiriam caminhos e direções opostas.
       Distanciamo-nos um do outro, esporadicamente nos víamos, quando adormecia você surgia em meio às minhas quimeras noturnas e desaparecia ao amanhecer.
      O tempo passou, cresci me perdi e me encontrei pelas veredas da vida e em uma linda noite do dia 24 dezembro do ano de 1999 nos encontramos, jamais poderia imaginar que seria o nosso último Natal. Desta vez o destino nos separou para sempre. Você se foi, partiu em uma tarde de primavera, de um céu azul, coreografado pelo bailado das gaivotas daquele 17 de dezembro de 2000.
     Na minha mente ficou gravado o brilho dos seus olhos verdes como esperança que você nutria de vencer a batalha contra o câncer que gradativamente lhe consumia. Com certeza Deus lhe requisitou para uma obra especial no paraíso.
    Eu queria tanto sentir o calou do seu abraço; compartilhar meus segredos, minhas alegrias, seguir os seus conselhos para enfrentar os desafios que surgem na íngreme estrada do viver.
     Hoje estamos em mundos diferentes já não consigo mais lhe escutar, Você será aquela estrela mais brilhante que o meu olhar contempla no firmamento, a imagem que transcende o meu campo visual e penetra no âmago do meu ser.
        Sou grato a você pela minha existência, dentro de mim viverá eternamente; a lembrança, um incontido desejo que não se realizou, uma infinita saudade.
       Que a sua luz espiritual continue reluzindo no plano em que você se encontra. Que o Senhor o tenha na sua majestosa glória.