sexta-feira, 9 de junho de 2023

MINHAS MANHÃS (CRÔNICA)

 

      Minhas manhãs lindas e ensolaradas despertando apoteótica natureza com a sua beleza, contemplo extasiado a sua magia que a tudo transforma. E me reencontro com tudo que vivi e que achava que tinha esquecido. A encantadora coreografia do balé das borboletas policromos pelos jardins dos canteiros das ruas por onde eu caminhava; da sinfonia dos pássaros sonolentos despertando em mim os versos e rimas de uma poesia que ainda estava adormecida num canto qualquer do meu pensamento.

     Ainda sinto no peito a dor daquela despedida que marcou a minha vida e fez rever os meus conceitos e valores. Hoje trago comigo, que o verdadeiro sentimento de amar, exige renúncias, e quando isso acontece, é deixar parti quem amamos e passar a conviver intrinsecamente com uma saudade que aos poucos vai machucando o nosso coração, e nos faz navegar pelos mares e oceanos das emoções vividas num tempo feliz de sonhos; fantasias; de um singular lirismo.

    Às vezes penso que o amor é um jogo de cartas marcadas, de lances imprevisíveis onde não existe vencedor ou perdedor, pois não somos nós que definimos as suas regras. Tudo acontece quando as luzes do mirabolante palco da vida se apagam e o espetáculo encerra o último ato de uma peça que apenas nos foi permitido interpretar, e sem que percebamos somos todos atores anônimos desempenhando papeis diferentes num mesmo cenário, modulado por um roteirista anônimo que o destino nomeou para delinear a nossa interpretação.

     Sinto no ar o perfume das minhas flores preferidas que incensavam o ambiente matinal purificando-o para um novo recomeço. A neblina das recordações aos poucos vai se dissipando da minha mente.

     Despeço-me da minha virtual caminhada e me reencontro com o ofuscante brilho da realidade, suas nuances são quase que imperceptíveis, tudo continua belo como antigamente, nada mudou, sinto uma incontida lágrima rolando pelo meu rosto, pois só então percebo que já sou um personagem do passado.