Minhas manhãs lindas e ensolaradas
despertando apoteótica natureza com a sua beleza, contemplo extasiado a sua
magia que a tudo transforma. E me reencontro com tudo que vivi e que achava que
tinha esquecido. A encantadora coreografia do balé das borboletas policromos pelos
jardins dos canteiros das ruas por onde eu caminhava; da sinfonia dos pássaros sonolentos
despertando em mim os versos e rimas de uma poesia que ainda estava adormecida
num canto qualquer do meu pensamento.
Ainda sinto no peito a dor daquela
despedida que marcou a minha vida e fez rever os meus conceitos e valores. Hoje
trago comigo, que o verdadeiro sentimento de amar, exige renúncias, e quando
isso acontece, é deixar parti quem amamos e passar a conviver intrinsecamente com
uma saudade que aos poucos vai machucando o nosso coração, e nos faz navegar
pelos mares e oceanos das emoções vividas num tempo feliz de sonhos; fantasias;
de um singular lirismo.
Às vezes penso que o amor é um jogo de
cartas marcadas, de lances imprevisíveis onde não existe vencedor ou perdedor, pois não somos
nós que definimos as suas regras. Tudo acontece quando as luzes do mirabolante
palco da vida se apagam e o espetáculo encerra o último ato de uma peça
que apenas nos foi permitido interpretar, e sem que percebamos somos todos
atores anônimos desempenhando papeis diferentes num mesmo cenário, modulado por
um roteirista anônimo que o destino nomeou para delinear a nossa interpretação.
Sinto no ar o perfume das minhas flores
preferidas que incensavam o ambiente matinal purificando-o para um novo
recomeço. A neblina das recordações aos poucos vai se dissipando da minha mente.
Despeço-me
da minha virtual caminhada e me reencontro com o ofuscante brilho da realidade,
suas nuances são quase que imperceptíveis, tudo continua belo como antigamente,
nada mudou, sinto uma incontida lágrima rolando pelo meu rosto, pois só então percebo
que já sou um personagem do passado.