sábado, 30 de maio de 2015

EU (CRÔNICA)

            Hoje, eu quero escrever só pra mim. Percorrer meus caminhos, seus atalhos, me embrenhar no mais profundo do meu ser. Buscar as resposta que eu tanto me fiz e não consegui encontrá-las.
         Hoje, eu quero ser eu sem você, enfrentar meus medos, sofrer com as minhas decepções, compartilhar comigo minhas alegrias. Poder olhar no espelho da minha existência e não temer os seus reflexos.
           Hoje, não quero conter àquela lágrima que não deixei escorrer pelo meu rosto, nem tão pouco liberar àquele falso sorriso que machucou meus lábios e transformou meu semblante no avesso dos meus sentimentos.
        Hoje, eu quero parar no tempo! Sentir suas transformações, percorrer cada parte do meu corpo, suas nuances, repassar o videotape da minha vida; caminhar pelos verdes campos da minha infância, velejar pelos mares dos sonhos da adolescência, voar pelos ares perfumados da juventude; dos encontros secretos, dos primeiros amores, sentir no meu âmago o gosto amargo da renúncia.
          Hoje, só hoje, eu vou editar o texto que eu escrevi, só pra mim, em cada parágrafo uma lembrança de um tempo que não volta mais, que me deixou cicatrizes que me marcarão para sempre e momentos de pura felicidade que jamais esquecerei. Em cada vírgula um novo recomeço, pois o viver é assim, o show não pode parar, ele tem de continuar, o script que recebo não tem roteiro definido pelo destino; é preâmbulo de uma nova história sem ponto final, que começo a escrever a partir de agora.



sexta-feira, 29 de maio de 2015

ATÉ BREVE (CRÔNICA)

         
   Às vezes paramos para refletir e no incontido desejo de reviver as coisas belas que deixamos espalhadas pelas trilhas que construímos em nossas caminhadas, folheamos parte do livro da nossa existência que escrevemos, somos personagens de tantas cenas e atos que interpretamos no magnífico teatro da vida, em cada palco um show diferente.
  São textos produzidos que relatam parte da nossa história. Parágrafos e capítulos inconclusos que se sucederam a tantos outros que julgávamos sem importância e que ficaram esquecidos na biblioteca do tempo empoeirados pelos detalhes que marcaram os trajetos pragmáticos entre o abstrato dos sonhos e o concreto da realidade.
    No intrínseco do nosso ser guardamos tesouros que somente os olhos da alma podem enxergá-los, pois são sentimentos que transcendem a razão; são imensuráveis, lapidados pelo espírito que habita em nós.
  Navegamos pelo finito momento presente, tão atraente, sua sutileza nos domina e nos conduz pelos seus atalhos, tão fugazes, como o intrépido vento que embala as ondas dos mares, brilhante como as estrelas que cintilam no firmamento.
    Na infinita passarela do amanhã não temos presença garantida, não sabemos se seremos convidados para desfilar no iluminado templo do futuro. Não temos acesso aos seus camarins, não podemos conhecer as nuances dos seus bastidores.    
    O descortinar das lembranças é como a neblina que aflora  transformando a paisagem da natureza, por trás do seu nevoeiro sempre existirá uma página em branco sem índice, pois a nossa estadia neste mundo é apenas uma sinopse da nossa obra literária.