terça-feira, 15 de dezembro de 2020

NATAL ANTIGA (CRÔNICA)

 

         Saudades! Saudades, do aroma daquela brisa que te açoitava e emaranhava meus cabelos, do indescritível belo pôr do sol, das tuas flamantes madrugadas com teu luar prateado, do misticismo das tuas vielas, dos teus becos, das tuas praças floridas, dos teus coretos que tão bem acolhiam nossas bandinhas e tradicionais concertos musicais, das tuas maviosas canções soltas pelo ar, do teu perfume me embriagando na tentação da tua boemia, do falso encanto que decoravam os teus bordéis, pelos teus caminhos amei e fui amado, fiz do momento contigo o meu melhor instante. Tornei-me cúmplice da felicidade e em teus bares sufoquei a dor das paixões proibidas; dos amores que chegaram em meio a utopia de uma noite estrelada iluminando o desejo, regada pelos drinks da ilusão, e se foram quando realidade do amanhecer despontou anunciando o fim dos sonhos. Finitos amores; que escravizaram o meu coração e o aqueceram com as chamas ardentes da sedução.    

         Recordo das tuas praeiras, tuas ondas multicores banhando meu corpo desnudo curtido pelos raios dourados que me bronzeava, do fascinante e mavioso canto das tuas sereias, princesas das tuas dunas brancas salpicadas pela esmeraldas do verde das tuas matas que a todos encantavam. Menina de tranças loiras tecidas pelas palhas dos teus coqueirais que acenavam para as nuvens que passavam levadas pelo teu suave vento litorâneo, das paqueras que rolavam soltas nos desfiles das tuas moças debutando na passarela fashion das tardes aconchegantes de domingo.

        Cresceste, o progresso bateu a tua porta, as novas tecnologias te viraram pelo avesso, já não encontro mais os tradicionais tapetes geométricos que a natureza te presenteou de seixos rolados que antigamente decoravam teus logradouros. A modernidade capitalista ocupou teus espaços nativos impondo uma liberdade chamada solidão, retratada nas tuas estruturas de concreto armado que compõe a tua arquitetura. Teus imponentes casarões ruíram levando parte da tua secular história. Teus barcos partindo do estuário do Potengi com suas velas tremulando levando consigo a incerteza do retorno, tuas moradias singelas e rústicas que adornavam tua orla marítima tornando-a mais bela, foram agressivamente substituídas pelas mansões e arranha-céus que descaracterizam a tua esplêndida paisagem natural.

         E, eu! Ah, eu também cresci junto contigo, o tempo também me transformou, no grisalho dos meus cabelos ficaram as marcas de um passado que deixou vivas tantas recordações que a saudade hoje me faz lembrar.