Vou
caminhando por uma estrada deserta contando os meus passos, deixo para traz parte
da minha história: a infância, a juventude, os desafios da idade adulta,
parágrafos e capítulos de um livro que escrevi ao longo da minha existência. Em
cada página retrato um pouco do meu eu, devaneios de épocas distantes que me
fizeram acreditar nos meus sonhos e que um dia eles poderiam se tornarem reais.
No entanto, era apenas miragens, neblinas das belas tardes de verão, lindas
cortinas que se abriam e repentinamente se fechavam nos trazendo para a
realidade de um mundo onde somos somente personagens de um elenco de um filme
sem título, intérpretes, protagonistas de um roteiro, cujo script foi produzido
por um cineasta chamado destino.
Revejo as marcas que deixei pelos
campos onde semeei minhas esperanças, minhas fantasias. Na câmera lenta das
lembranças, as imagens vão se sucedendo como o encanto das borboletas valsando
pelos jardins da primavera, livres, coreografando o mágico bailado da natureza.
Do alto do miradouro da minha vida contemplo minhas paisagens, suas nuances me fascinam,
pois retratam meus feitos. De repente, me vejo cavalgando pelas recordações dos
momentos fascinantes vividos que estavam esquecidos no campo semântico da minha
memória. Mas, foi apenas uma ilusão, me surpreendo ao vê-los esquiando pelas
margens bordadas de um mar que certa vez acolheu o meu pranto e cicatrizou os
meus traumas.
Assim vou percorrendo as trilhas que vão
surgindo à minha frente sem saber a onde vou chegar. Vou fugindo dos fatos
antigos, levo comigo aquele olhar que ao cruzar com o meu transformou a minha vida
e me fez acreditar que tudo poderia ser diferente, que viver era algo mais do
que eu pensava, era sublime mas tudo tinha e tem um preço que pagamos para
continuarmos cumprindo a nossa missão nesse plano, tão cheio de desigualdades, falácia
de sentimentos, parece que o amor pediu
licença e voou para outros mundos me deixando órfão e à mercê dos infortúnios de um tempo desumano. Lágrimas
que afloram escondidas pelo meu impávido rosto e se misturam com os sorrisos
que molduram imagens virtuais, apliques reproduzidos pelos meus pensamentos que
disfarçam as rugas que o tempo deixou
esculpidas na minha face; nos cabelos grisalhos pelas experiências da vida.
Então eu choro ao recordar tudo que vivi e deixei de viver.
Aos poucos a minha geração está passando, os
amantes da liberdade; das conversas soltas pelos parques e jardins; dos acordes
de um violão solitário ao luar, lentamente são requisitados pelo nosso supremo
criador para retornar a nossa verdadeira casa, aqui é somente uma passagem, talvez
um breve estágio para lapidar o nosso espírito.