domingo, 25 de setembro de 2016

O JOGO DA VIDA (CONTO)



        Esta vida é um jogo onde tudo acontece ou se perde ou se ganha, seus caprichos nos conduz por rumos diferentes daqueles que traçamos para trilharmos. A bela italiana, Pietra Pecci, sabia disso, seus olhos azuis como as ondas do mar já estavam acostumados aos textos das sentenças que proferia nos tribunais, renomada juíza da suprema corte italiana afeita aos grandes julgamentos, parecia não acreditar no que estava preste acontecer em sua carreira de magistrada.
       As lembranças afloravam da sua memória; a separação dos seus pais, da infância pobre, abandonada pelo pai foi internada no orfanato, Del Bacchi, das noites mal dormidas; do desespero que batia em sua porta; das incontidas lágrimas que molhavam seu adolescente rosto. Queria gritar para o mundo que estava ali a espera da felicidade, mas não conseguia articular uma só palavra seu grito mudo se perdia no vazio das grossas paredes daquele inóspito ambiente onde se encontrava reclusa desde os dez anos de idade.
        Era uma linda manhã de primavera do ano de 1965, às flores adornavam os tapetes verdes da bela cidade de Florença, Bertani Adami, conceituado procurador do Ministério Público Italiano, cumpria sua missão rotineira de inspecionar os internatos da localidade. Para Pietra à história iria mudar o seu curso, a vida jamais seria a mesma para ela.
        Dentro processo de avaliação do magistrado estava prevista uma entrevista com cada adolescente interno e ao chegar a vez de Pietra Pecci, Bertani, logo percebeu que estava diante alguém diferenciado.  Seu rosto angelical, seus cabelos doirados caindo sobre os ombros, sua voz era doce e serena, o seu olhar tinha um brilho diferente que ele jamais tinha visto.   
       Afeito às emoções de sua profissão, Bertani Adami, nunca havia sentido um sentimento igual ao que experimentava ao se deparar com àquela jovem. Não tardou muito e ele entrou com um processo de adoção junto aos tribunais italianos.
      Pietra, sempre sonhava com uma família, um lar, mas era quase impossível acreditar que o seu sonho estava se realizando. Estudou nos melhores colégios de Roma, concluiu o curso de direito onde se especializou, e logo cursou o mestrado, doutorado e pós-doutorado na área criminal. Ingressar na magistratura italiana foi apenas questão de tempo.
      Às horas passavam rapidamente e ela estava prestes a tomar a decisão mais difícil de toda à sua trajetória profissional, presidir o julgamento de um dos mais importantes traficantes internacionais de drogas. O mesmo havia sido preso nos Estados Unidos pelo FBI (Federal Bureau of Investigation) e extraditado para Itália. As provas eram contundentes, ao longo das investigações não havia nem uma dúvida de que “SHEIK”, pseudônimo adotado pelo acusado era culpado e,
portanto, seria condenado pela justiça italiana à pena máxima prevista no ordenamento jurídico italiano.
      Anoiteceu rapidamente, a madrugada daquele dia 29 de setembro de 2005, encontrou Pietra, contemplando toda a beleza do firmamento, conversava com Deus e pedia que ele lhe desse discernimento e coragem para conduzir com equidade àquele julgamento.
      O dia amanheceu com nuvens acinzentadas, uma profunda melancolia adornava o ambiente, já passava das 08h00, quando a Dra. Pietra Pecci, chegou a sede do Tribunal, como sempre fazia dirigiu-se a sua sala, certificou-se que toda às providências já haviam sido tomadas para o andamento dos trabalhos e se dirigiu para o plenário do fórum, o cenário estava pronto.
      Havia um forte contingente policial e todos os seguimentos da imprensa se faziam presente no recinto para cobertura daquele que seria o mais importante julgamento do ano.
      O réu devidamente escoltado foi trazido a sala de audiências e foi dado início ao rito do julgamento. O promotor de acusação apresentou a tese de culpabilidade do acusado concluindo com o pedido de condenação a pena máxima. A defensoria norteou sua defesa na contestação veemente das provas apresentadas pela promotoria e requereu à absolvição do seu constituinte.  
      A tarde já se despedia ao longe podia se ver todo encanto do crepúsculo romano, já era noite quando a juíza começou a prolatar a sentença. O Sheik ficou frente a frente com a magistrada, seus olhares se encontraram ambos tinham o mesmo brilho azulado, seus semblantes tinham algo em comum, que poucos tinham percebido. Após a leitura a juíza condenou o réu, à prisão perpetua.
      Acompanhada de seguranças a magistrada deixou o Tribunal rumando para o seu apartamento, localizado num condomínio luxuoso do bairro de Pinciano. Usava óculos escuro que escondiam às lágrimas que insistiam em rolar pelo seu rosto a fora. Haviam transcorridos 30 anos desde quando foi adotada, mas quis o destino que o passado do qual tinha jurado sepultar para sempre se materializasse naquele presente. Durante a fase de instrução do processo, Pietra Pecci, havia descoberto a verdadeira identidade do Sheik. Custou acreditar no que descobrira. Fez averiguações por conta própria, mas cada vez mais a verdade se tornava mais dura e evidente.
        Finalmente chegou à sua residência, caminhou até a varanda do prédio onde residia e deixou-se cair na aconchegante poltrona de couro fino e então chorou copiosamente. O homem que acabará de condenar, era Chiarelli Pecci, seu pai biológico. No jogo da vida somos atletas anônimos escolhidos para uma disputa, que não tem tempo definido para terminar.

NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera coincidência. Autor: José Valdomiro Silva.

domingo, 11 de setembro de 2016

AMOR LIVRE



Não existe eu sem você!
Você sem eu,
O verdadeiro amor
Não se divide.

Fomos a chama viva
De um sentimento
Puro, que habitou
Em nossos corações,

Que nos fez renascer
Para a vida.
E, eu, me entreguei
Só para você.

Você me amou
E, eu lhe amei.
Foi um erro acreditar
Que você era só minha.

Você nunca foi de ninguém;
Nasceu para ser livre
Como às gaivotas
Do entardecer,

Que em sua revoada vespertina
Brilham em sua mágica
Coreográfica de despedida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

DESTINO (CONTO)



          A guerra havia terminado para Louis de Chevalier, era difícil acreditar que estava voltando para casa pela janela do vagão do trem às paisagens se sucediam numa velocidade incrível, assim como às imagens dos momentos  terríveis que vivera e que intimamente não queria relembrar, mas sabia que o acompanhariam pelo resto da vida. Anoitecia rapidamente uma bela lua despontava por entre às sombras das oliveiras, que açoitadas pela brisa airosa que vinha do Sul, formavam mult caricaturas que transformavam o estrelado firmamento francês em um palco iluminado com um único expectador, Louis de Chevalier, viajava física e espiritualmente pelos caminhos das suas venturas, saudades da mulher amada, Camille Blanche, que estava grávida quando foi recrutado e logo em seguida teve de embarcar para território alemão. Em uma das poucas cartas que recebeu da esposa soube que a mesma tinha dado à luz, um menino, e que tinha recebido o nome de Victorine Blanche de Chevalier.
      À noite avançava madrugada à dentro o silêncio era o seu único companheiro e insistentemente tentava manter um diálogo com ele sem sucesso, foram feitas tantas perguntas que ficaram perdidas sem respostas, aos poucos vencido pelo cansaço adormeceu em meio ao seu desvairado delírio.
       A manhã despertava radiante, por trás dos montes o príncipe doirado anunciava mais um alvorecer na bela cidade de Colmar, localizada na fronteira entre a França e Alemanha, era primavera e a beleza natural das flores a tornava mais encantadora, seus canais coloridos dando guarida aos barcos que navegavam por ele, suas casinhas decoradas pela natureza inspiravam a poesia e se respirava paz naquele pequeno vilarejo francês.
        A estação estava quase que deserta quando De Chevalier desembarcou, na bagagem trazia quase nada a não ser o lustroso medalhão de Saint Denis que foi lhe presenteado por sua mãe, Eloise, quando da sua partida para o front e que sempre levava consigo e acreditava piamente que lhe tinha salvo a vida várias vezes no campo de batalha. A cidade acordava e os transeuntes noturnos começavam a se retirar do cenário dos bares e cafés tradicionais pontos de encontros dos franceses.
       Depois de muito procurar à sua família foi informado que a mesma teria mudado para uma outra cidade localizada na Riviera francesa. Sem dinheiro resolveu procura trabalho e logo conseguiu em um dos cafés localizado próximo ao tradicional Balneário, Le de France. Começava então reescrever parte do livro da sua vida. Os anos foram se sucedendo, o tempo galopava velozmente levando em sua garupa, Louis, que agora era um empresário bem-sucedido no ramo da gastronomia; de nada adiantaram às tentativas no sentido de localizar à sua família, todas foram em vão. E, pairava a dúvida de que os seus familiares poderiam terem perecidos durante o período da guerra, mas dentro de si existia a esperança de um dia poder encontrá-los.    
     Certa vez, estava ele participando de um congresso em Barcelona na vizinha Espanha, quando foi vítima de um acidente automobilístico, socorrido em estado grave para uma unidade hospitalar foi conduzido às pressas para o centro cirúrgico, após examinar o caso o médico de plantão comunicou aos que estavam na sala de espera aguardando por notícias, que o paciente iria ser submetido a uma cirurgia de urgência e mesmo assim somente um milagre poderia salvá-lo.
      Todos eram conscientes da situação crítica em que se encontrava o amigo; o patrão, pois os que ali se encontravam acompanhava-o na viagem de negócios e lamentavam que um homem tão bom como ele e que havia lutado tanto pela vida e sempre procurando encontrar seus entes queridos tivesse de partir prematuramente e de maneira tão trágica.
       Foram oito horas de angustiante e espera até que por fim o cirurgião surgiu na antessala, estava exausto, mas, o seu semblante transmitia amor, ao se dirigir a todos tinha um brilho diferente no olhar que somente, Louis, talvez fosse capaz de identificar.
       O procedimento cirúrgico foi um sucesso ele está fora de perigo, vejo que às orações dos senhores chegaram até Deus ele salvou vida dele, eu! Apenas fui um instrumento usado por ele. Se por acaso precisarem de mim, deixo o meu cartão com a recomendação de me ligarem imediatamente. Dr. Victorine Blanche de Chevalier, Cirurgião Geral.
    
    
NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera coincidência.

Autor – José Valdomiro Silva