quarta-feira, 7 de setembro de 2016

DESTINO (CONTO)



          A guerra havia terminado para Louis de Chevalier, era difícil acreditar que estava voltando para casa pela janela do vagão do trem às paisagens se sucediam numa velocidade incrível, assim como às imagens dos momentos  terríveis que vivera e que intimamente não queria relembrar, mas sabia que o acompanhariam pelo resto da vida. Anoitecia rapidamente uma bela lua despontava por entre às sombras das oliveiras, que açoitadas pela brisa airosa que vinha do Sul, formavam mult caricaturas que transformavam o estrelado firmamento francês em um palco iluminado com um único expectador, Louis de Chevalier, viajava física e espiritualmente pelos caminhos das suas venturas, saudades da mulher amada, Camille Blanche, que estava grávida quando foi recrutado e logo em seguida teve de embarcar para território alemão. Em uma das poucas cartas que recebeu da esposa soube que a mesma tinha dado à luz, um menino, e que tinha recebido o nome de Victorine Blanche de Chevalier.
      À noite avançava madrugada à dentro o silêncio era o seu único companheiro e insistentemente tentava manter um diálogo com ele sem sucesso, foram feitas tantas perguntas que ficaram perdidas sem respostas, aos poucos vencido pelo cansaço adormeceu em meio ao seu desvairado delírio.
       A manhã despertava radiante, por trás dos montes o príncipe doirado anunciava mais um alvorecer na bela cidade de Colmar, localizada na fronteira entre a França e Alemanha, era primavera e a beleza natural das flores a tornava mais encantadora, seus canais coloridos dando guarida aos barcos que navegavam por ele, suas casinhas decoradas pela natureza inspiravam a poesia e se respirava paz naquele pequeno vilarejo francês.
        A estação estava quase que deserta quando De Chevalier desembarcou, na bagagem trazia quase nada a não ser o lustroso medalhão de Saint Denis que foi lhe presenteado por sua mãe, Eloise, quando da sua partida para o front e que sempre levava consigo e acreditava piamente que lhe tinha salvo a vida várias vezes no campo de batalha. A cidade acordava e os transeuntes noturnos começavam a se retirar do cenário dos bares e cafés tradicionais pontos de encontros dos franceses.
       Depois de muito procurar à sua família foi informado que a mesma teria mudado para uma outra cidade localizada na Riviera francesa. Sem dinheiro resolveu procura trabalho e logo conseguiu em um dos cafés localizado próximo ao tradicional Balneário, Le de France. Começava então reescrever parte do livro da sua vida. Os anos foram se sucedendo, o tempo galopava velozmente levando em sua garupa, Louis, que agora era um empresário bem-sucedido no ramo da gastronomia; de nada adiantaram às tentativas no sentido de localizar à sua família, todas foram em vão. E, pairava a dúvida de que os seus familiares poderiam terem perecidos durante o período da guerra, mas dentro de si existia a esperança de um dia poder encontrá-los.    
     Certa vez, estava ele participando de um congresso em Barcelona na vizinha Espanha, quando foi vítima de um acidente automobilístico, socorrido em estado grave para uma unidade hospitalar foi conduzido às pressas para o centro cirúrgico, após examinar o caso o médico de plantão comunicou aos que estavam na sala de espera aguardando por notícias, que o paciente iria ser submetido a uma cirurgia de urgência e mesmo assim somente um milagre poderia salvá-lo.
      Todos eram conscientes da situação crítica em que se encontrava o amigo; o patrão, pois os que ali se encontravam acompanhava-o na viagem de negócios e lamentavam que um homem tão bom como ele e que havia lutado tanto pela vida e sempre procurando encontrar seus entes queridos tivesse de partir prematuramente e de maneira tão trágica.
       Foram oito horas de angustiante e espera até que por fim o cirurgião surgiu na antessala, estava exausto, mas, o seu semblante transmitia amor, ao se dirigir a todos tinha um brilho diferente no olhar que somente, Louis, talvez fosse capaz de identificar.
       O procedimento cirúrgico foi um sucesso ele está fora de perigo, vejo que às orações dos senhores chegaram até Deus ele salvou vida dele, eu! Apenas fui um instrumento usado por ele. Se por acaso precisarem de mim, deixo o meu cartão com a recomendação de me ligarem imediatamente. Dr. Victorine Blanche de Chevalier, Cirurgião Geral.
    
    
NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera coincidência.

Autor – José Valdomiro Silva