Ano de 2015, mês,
janeiro, dia 08. Inicia-se uma nova fase da minha existência, talvez no meu
egoísmo ou vaidade, recuso-me acreditar que o tempo passou tão rápido, e eu não
percebi o efeito de sua metamorfose sobre o meu ser: suas marcas se acentuam no
meu corpo, no grisalho das mechas que tonalizam meus cabelos, o aviso prévio de
uma nova era que surge. Como por encanto a maquiagem vai se desfazendo deixando
à mostra uma imagem, que de agora por diante me acompanhará. Que eu aceite ou
não, os atos e ações que pratiquei e vivenciei, serão apenas reflexos de um
espelho que me revela a realidade do hoje. São experiências que trago comigo
para o instante presente, e que servirão de
referência para os meus passos futuros.
Ah, vida, vida minha, teus fetiches, tuas
fantasias, teus sonhos e verdades, são estradas secundárias que me conduzem
pelos teus cruzamentos, pelos teus canteiros de flores e espinhos que me levam
pelos teus atalhos desconhecidos. Que me faz contemplar o horizonte distante
que aos poucos vai se afastando do alcance do meu olhar e se perde na densa
neblina dos anos que se foram. Sentado à beira do caminho rabisco meus versos
na areia branca da praia que me abriga e dá harmonia às minhas rimas. Poemas e poesias se misturam com o franjar
bordado das espumas das ondas mansas de um mar sereno, que me fascina com seus
mistérios. E, lá vou eu velejando pelo oceano das minhas lembranças,
ressuscitando do baú da minha memória uma época que vivi.
Imerso nos meus pensamentos sou envolvido pelo
abstrato nevoeiro das recordações, dos sentimentos, da ausência dos talentos
que ficaram perdidos pelo meio dos caminhos que eu trilhei, daquela lua
feiticeira que me seduzia com os seus raios prateados de neon, do canto
solitário de um violão pela madrugada afora; pela saudade dos amores que
passaram por mim e que em algum momento me fizeram acreditar na magia de um
sorriso, nos sentimentos anônimos que não chegaram a ser expresso na
singularidade das palavras.
No encanto do viver, eu
sou como um pássaro que deixou o aconchego do seu ninho, e se foi a voar em busca
de outras paragens que pudesse abrigar seu coração solitário. Às asas do
destino me levaram sem me permitir escolher o itinerário da minha viagem.
O ilusionismo da juventude
se foi, como a água das fontes cristalinas que escorre para as cachoeiras,
partiu num sopro de um vento praiano, de uma brisa fagueira que acariciou meu
rosto pela última vez numa linda madrugada do verão do ano de 2015, mês,
janeiro, dia 07.