segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

IMAGENS (CRÔNICA)



             Aqui estou eu, tendo como companheiro, meu silêncio, meu olhar contempla ao longe o anônimo desfile das brumas alaranjadas que aos poucos vão caricaturando às imagens projetadas pelo meu pensamento. Da sacada do hotel, onde me encontro, 15º andar, vejo às ondas mansas do mar bordando com suas espumas brancas mais uma página da minha história. Ao vislumbrar o magnifico quadro que se desenha diante de mim é que entendo toda magnitude da natureza, e eu, anônimo artista sou apenas um mero coadjuvante do enigmático processo de viver.   
              A tarde acena na tosca despedida de um dia que se foi e não volta mais, o que fiz ou deixei de fazer já é passado, não dar mais para corrigir o que errei nem tão pouco comemorar os meus acertos. O relógio do tempo adianta seus ponteiros e a vida segue seu curso normal, deslumbrante como a flor que desabrocha nos jardins da primavera, no entanto, o seu reinado é efêmero como arco-íris que surge por entre às nuvens cinzentas do inverno e desaparece furtivamente sem que possamos fotografar à sua apoteótica passagem.
              No poente, o príncipe doirado acena num último adeus e se esconde por trás do horizonte, entre uma duna e outra percebo ainda todo o seu esplendor que me retrata toda a sua beleza através das minhas poesias, da minha escrita, da minha inspiração que aflora junto com a emoção que me domina e me deixa extasiado.   
              Às luzes da cidade se acendem dando início a um novo ciclo da minha existência, a dama negra surge radiante saudada pelas princesas brilhantes cintilando no firmamento lhe dando boas-vindas. Seus fiéis adoradores se dispersam pelos seus caminhos.   
              A boemia abre suas portas para cultuar a sua musa que a todos ilumina com o seu luar prateado, seus fetiches, sua imensurável beleza resplandece na abóbada celeste unindo corações com o seu encanto, transformado paixões em amores, desejos em prazeres que às vezes são momentâneos e em outras são eternos.
             Em cada rosto encontro a frívola alegria do momento, tão passageira como a fresca brisa que varre a passarela dos desconhecidos transeuntes que caminham pelo iluminado calçadão da fama temporária.
             Aos poucos o teatro da vida abre às cortinas para mais um espetáculo, nos seus diversos palcos tudo acontece, cenários fictícios onde os sonhos se tornam realidade, verdades se transformam em fantasias e nas contraditórias trilhas traçadas pelo destino tudo se transforma.
             Sorvo meu drink final, pego carona no elevador panorâmico da madrugada e, saio de cena, o amanhã é uma incógnita, não sei se terei permissão para estar aqui novamente.