domingo, 24 de julho de 2016

ENCONTRO MARCADO




 Encontro marcado
Nas esquinas da vida.
Recordação do passado
Que não pode ser esquecida,

Que timidamente desperta
Como o sol acorda o amanhecer.
Berço de uma saudade que aperta
E não permite esquecer

Tantos momentos vividos
Adormecidos nos braços do tempo,
Entre farrapos escondidos,
Voando pelo pensamento;

Que cavalgam pelas planícies
Do subconsciente,
Trilhas invisíveis
Onde tudo muda de repente.

Nada é por acaso,
O destino constrói
Sua estrada a cada passo
E nela não há lugar para herói.

Suas surpresas, suas curvas
Imperceptíveis sem retorno.
De sinalizações turvas
De indefinidos contornos,

Que surgem subitamente
Como um torvelinho 
Ilusório e aparente
Ao longo do caminho.



      






segunda-feira, 18 de julho de 2016

AMOR ETERNO (CONTO)




              Soprava uma brisa suave, à tarde lentamente se despedia, Bryan Lewis, caminhava sem um rumo definido contemplava o multicor balé das ondas suas espumas cor de marfim desaparecendo nas areias douradas daquela praia praticamente deserta. Seu olhar já não tinha o mesmo brilho de antigamente, para ele tudo tinha acontecido muito rápido, ao longe uma gaivota solitária ensaiava a sua graciosa coreografia no infinito azul do firmamento.
             Aos poucos às lembranças foram aflorando, a infância sonhadora vivida naquela pequena vila praiana circundada por prédios artesanais, a imensurável e encantadora beleza daquele mar de tantos mitos e lendas que lhe inspirava a liberdade; a primeira namorada (Kyara Mitchell) uma joia que o enfeitiçou quando  a conheceu em uma bela manhã de primavera quando fazia a sua matinal caminhada à procura dos tesouros que o paraíso oceânico (conchinhas do mar) lhe oferecia gratuitamente e que tão bem sabia transformá-los em vistosas peças de joalherias e obras de artes, verdadeiros amuletos que muitos acreditavam terem poderes sobrenaturais.
            Bryan Lewis, renomado médico, neurologista, retornava às suas origens, o progresso tinha mudado quase tudo, o pequeno povoado onde viveu às melhores fases da sua existência, hoje era uma pequena cidadezinha típica das paisagens litorânea dos Estados Unidos, no entanto, podia observar que boa parte de sua extensão geográfica permanecia ainda nativa e emoldurada pelas suas belezas. E, aquele pequeno recanto onde se encontrava era um deles, ponto de partida da sua emocionante viagem pelos labirintos da memória, de sua incrível meditação sobre o seu passado.
           Onde estaria Kyara Mitchell? Seu primeiro e único amor, a sereia encantada que perdeu seus poderes mágicos quando ele a salvou ao surfar por entre às ondas agitadas daquele lindo amanhecer de primavera de abril de 1966. Seus olhos eram como às esmeraldas que brotavam do azul profundo, um ser iluminado que de repente surgiu do nada para os seus braços à procura da vida.
           Foram dez anos de intensa felicidade, longe da realidade perto dos sonhos, até que um dia o curso da história mudaria por completo suas vidas e o platônico sentimento que os unia. A família de Bryan foi morar em Oxford, na Inglaterra e ele ficou dividido entre ficar ao lado da mulher amada ou enfrentar o desafio de ir em busca da realização do seu grande desejo, cursar a faculdade de medicina e depois voltar para casar-se com Kyara, sem nenhuma alternativa, em 1976, deixou Charleston, Carolina do Sul, e partiu junto com os pais para o Reino Unido.
           No início às cartas eram frequentes e a saudade cada vez aumentava mais, Bryan conseguiu ser aprovado no vestibular para o curso de medicina da Universidade de Oxford, uma das mais famosas instituições de ensino dos Ingleses.
          Juiz implacável, o tempo cumpria o seu crucial papel, aos poucos os contatos entre Bryan e Kyara, foram se tornando cada vez mais remotos até cessarem definitivamente. Ele conseguiu obter a sua vitória, ser médico, e se tornar um dos mais famosos neurologistas de sua cidade, mas não era completamente feliz, era preciso voltar e tentar encontrar o verdadeiro sentido da sua vida, Kyara Mitchell, dizer que o seu amor não morrera, que nada tinha mudado e que poderiam recuperar o que haviam perdido, mas para tanto teria de voltar à Charleston, ele iria encontra-la, talvez fosse tarde demais, mas era tudo que ele queria.
           E, ele estava ali, já havia procurado em toda a cidade por Kyara e não obteve nenhuma informação, resolveu então seguir a mesma trilha onde costumeiramente marcavam seus encontros, fugazes momentos que viviam como se fossem os últimos. Reclinou levemente a cabeça sobre um travesseiro de areia trazido pelo vento encoberto por tranças de rosas feitas pela própria natureza. À noite chegou trazendo consigo a mais exuberante de suas estrelas de raios esverdeados como à esmeralda que Bryan tanto procurava.
          No dia seguinte um jovem pescador passava pelo local em busca das suas conchinhas, tradicionais adereços que utilizava na decoração do seu ateliê e encontrou o corpo de Bryan, tinha nos lábios um lindo sorriso, sua cabeleira loira estava cuidadosamente entrançada com um ramalhete de flores naturais. O socorro médico já não podia fazer mais nada, Bryan havia partido como ele sempre desejou, tentando encontrar o grande amor da sua vida.
         Foi em vão todas às tentativas de localização da família de Bryan na Inglaterra, findo o prazo às autoridades locais do Condado de Charleston, na Carolina do Sul, autorizaram o seu sepultamento no cemitério local, onde uma instituição filantrópica possuía um túmulo que sempre era utilizado em casos desta natureza. Em sua lápide existiam os nomes daqueles que ali repousavam eternamente e dentre tantos um chamava à atenção pela a sua cintilação esverdeada onde podia-se ler. “Parti numa noite estrelada e não o encontrei, mas sei que nos acharemos, pois, o verdadeiro amor nunca morre, ele é eterno”. KYARA MITCHEII.
        Diz a lenda que nas manhãs de primavera um jovem casal de tranças loiras é visto surfando pelas belíssimas praias da Carolina do Sul.

NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera coincidência.

Autor – José Valdomiro Silva