Soprava uma brisa suave, à tarde
lentamente se despedia, Bryan Lewis, caminhava sem um rumo definido contemplava
o multicor balé das ondas suas espumas cor de marfim desaparecendo nas areias
douradas daquela praia praticamente deserta. Seu olhar já não tinha o mesmo
brilho de antigamente, para ele tudo tinha acontecido muito rápido, ao longe
uma gaivota solitária ensaiava a sua graciosa coreografia no infinito azul do
firmamento.
Aos poucos às lembranças foram
aflorando, a infância sonhadora vivida naquela pequena vila praiana circundada
por prédios artesanais, a imensurável e encantadora beleza daquele mar de
tantos mitos e lendas que lhe inspirava a liberdade; a primeira namorada (Kyara
Mitchell) uma joia que o enfeitiçou quando a conheceu em uma bela manhã de primavera quando fazia a sua matinal caminhada
à procura dos tesouros que o paraíso oceânico (conchinhas do mar) lhe oferecia
gratuitamente e que tão bem sabia transformá-los em vistosas peças de joalherias e obras de artes, verdadeiros
amuletos que muitos acreditavam terem poderes sobrenaturais.
Bryan Lewis, renomado médico,
neurologista, retornava às suas origens, o progresso tinha mudado quase tudo, o
pequeno povoado onde viveu às melhores fases da
sua existência, hoje era uma pequena cidadezinha típica das paisagens litorânea
dos Estados Unidos, no entanto, podia observar que boa parte de sua extensão
geográfica permanecia ainda nativa e emoldurada pelas suas belezas. E, aquele
pequeno recanto onde se encontrava era um deles, ponto de partida da sua
emocionante viagem pelos labirintos da memória, de sua incrível meditação sobre
o seu passado.
Onde estaria Kyara Mitchell? Seu
primeiro e único amor, a sereia encantada que perdeu seus poderes mágicos
quando ele a salvou ao surfar por entre às ondas agitadas daquele lindo
amanhecer de primavera de abril de 1966. Seus olhos eram como às esmeraldas que
brotavam do azul profundo, um ser iluminado que de repente surgiu do nada para
os seus braços à procura da vida.
Foram dez anos de intensa
felicidade, longe da realidade perto dos sonhos, até que um dia o curso da
história mudaria por completo suas vidas e o platônico sentimento que os unia. A
família de Bryan foi morar em Oxford, na Inglaterra e ele ficou dividido entre
ficar ao lado da mulher amada ou enfrentar o desafio de ir em busca da
realização do seu grande desejo, cursar a faculdade de medicina e depois voltar
para casar-se com Kyara, sem nenhuma alternativa, em 1976, deixou Charleston,
Carolina do Sul, e partiu junto com os pais para o Reino Unido.
No início às cartas eram frequentes
e a saudade cada vez aumentava mais, Bryan conseguiu ser aprovado no vestibular
para o curso de medicina da Universidade de Oxford, uma das mais famosas
instituições de ensino dos Ingleses.
Juiz implacável, o tempo cumpria o
seu crucial papel, aos poucos os contatos entre Bryan e Kyara, foram se tornando
cada vez mais remotos até cessarem definitivamente. Ele conseguiu obter a sua
vitória, ser médico, e se tornar um dos mais famosos neurologistas de sua
cidade, mas não era completamente feliz, era preciso voltar e tentar encontrar o verdadeiro sentido da sua vida,
Kyara Mitchell, dizer que o seu amor não morrera, que nada tinha mudado e que
poderiam recuperar o que haviam perdido, mas para tanto teria de voltar à
Charleston, ele iria encontra-la, talvez fosse tarde demais, mas era tudo que
ele queria.
E, ele estava ali, já havia procurado
em toda a cidade por Kyara e não obteve nenhuma informação, resolveu então seguir
a mesma trilha onde costumeiramente marcavam seus encontros, fugazes momentos
que viviam como se fossem os últimos. Reclinou levemente a cabeça sobre um
travesseiro de areia trazido pelo vento encoberto por tranças de rosas feitas
pela própria natureza. À noite chegou trazendo consigo a mais exuberante de
suas estrelas de raios esverdeados como à esmeralda que Bryan tanto procurava.
No
dia seguinte um jovem pescador passava pelo local em busca das suas conchinhas,
tradicionais adereços que utilizava na decoração do seu ateliê e encontrou o
corpo de Bryan, tinha nos lábios um lindo sorriso, sua cabeleira loira estava
cuidadosamente entrançada com um ramalhete de flores naturais. O socorro médico
já não podia fazer mais nada, Bryan havia partido como ele sempre desejou,
tentando encontrar o grande amor da sua vida.
Foi em vão todas às tentativas de
localização da família de Bryan na Inglaterra, findo o prazo às autoridades
locais do Condado de Charleston, na Carolina do Sul, autorizaram o seu
sepultamento no cemitério local, onde uma instituição filantrópica possuía um
túmulo que sempre era utilizado em casos desta natureza. Em sua lápide existiam
os nomes daqueles que ali repousavam eternamente e dentre tantos um chamava à
atenção pela a sua cintilação esverdeada onde podia-se ler. “Parti numa noite
estrelada e não o encontrei, mas sei que nos acharemos, pois, o verdadeiro amor
nunca morre, ele é eterno”. KYARA
MITCHEII.
Diz a lenda que nas manhãs de primavera
um jovem casal de tranças loiras é visto surfando pelas belíssimas praias da
Carolina do Sul.
NOTA
DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera
coincidência.
Autor
– José Valdomiro Silva
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