Aqui estou eu, tendo como companheiro, meu silêncio,
meu olhar contempla ao longe o anônimo desfile
das brumas alaranjadas que aos poucos vão caricaturando às imagens projetadas
pelo meu pensamento. Da sacada do hotel, onde me encontro, 15º andar, vejo às
ondas mansas do mar bordando com suas espumas brancas mais uma página da minha
história. Ao vislumbrar o magnifico quadro que se desenha diante de mim é que
entendo toda magnitude da natureza, e eu, anônimo artista sou apenas um mero
coadjuvante do enigmático processo de viver.
A tarde acena na tosca despedida
de um dia que se foi e não volta mais, o que fiz ou deixei de fazer já é
passado, não dar mais para corrigir o que errei nem tão pouco comemorar os meus
acertos. O relógio do tempo adianta seus
ponteiros e a vida segue seu curso normal, deslumbrante como a flor que
desabrocha nos jardins da primavera, no entanto, o seu reinado é efêmero como
arco-íris que surge por entre às nuvens cinzentas do inverno e desaparece furtivamente
sem que possamos fotografar à sua apoteótica passagem.
No poente, o príncipe doirado
acena num último adeus e se esconde por trás do horizonte, entre uma duna e
outra percebo ainda todo o seu esplendor que me retrata toda a sua beleza
através das minhas poesias, da minha escrita, da minha inspiração que aflora
junto com a emoção que me domina e me deixa extasiado.
Às luzes da cidade se acendem
dando início a um novo ciclo da minha existência, a dama negra surge radiante
saudada pelas princesas brilhantes cintilando no firmamento lhe dando boas-vindas.
Seus fiéis adoradores se dispersam pelos seus caminhos.
A boemia abre suas portas para
cultuar a sua musa que a todos ilumina com o seu luar prateado, seus fetiches,
sua imensurável beleza resplandece na abóbada celeste unindo corações com o seu
encanto, transformado paixões em amores, desejos em prazeres que às vezes são
momentâneos e em outras são eternos.
Em cada rosto encontro a frívola
alegria do momento, tão passageira como a fresca brisa que varre a passarela
dos desconhecidos transeuntes que caminham pelo iluminado calçadão da fama
temporária.
Aos poucos o teatro da vida abre
às cortinas para mais um espetáculo, nos seus diversos palcos tudo acontece,
cenários fictícios onde os sonhos se tornam realidade, verdades se transformam
em fantasias e nas contraditórias trilhas traçadas pelo destino tudo se transforma.
Sorvo meu drink final, pego carona
no elevador panorâmico da madrugada e, saio de cena, o amanhã é uma incógnita, não
sei se terei permissão para estar aqui novamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário